sábado, setembro 02, 2006

From the flaming forest to Grass

1) Estou de férias e não tenho grande pachorra para polémicas. Mas vou abrir aqui uma excepção. Há uns dias andava para aí uma tremenda discussão porque Eduardo Cintra Torres, (esse questionável guru da crítica em Portugal) afirmou que a RTP tinha sido sujeita a pressões do governo para evitar conceder tanto tempo de antena aos incêndios nacionais (que grande frase). Gerou-se logo uma grande confusão, com direito a acusações de censura, artigos ácidos nos jornais, bengaladas televisivas e muito bla bla bla (ah pois é, ainda estamos em Silly Season). Meus amigos, se o Cintra Torres diz que não há incêndios na RTP, é da maneira que eu ligo a RTP enquanto estiver a saborear a minha refeição (isto se estiver a comer a horas de telejornal). Farto (até aos cabelos) estou eu de ver a sensacionalista e vergonhosa cobertura que os repórteres (não me atrevo a chamá-los jornalistas) televisivos fazem dos incêndios em Portugal.

2) Volto à carga para quebrar de novo a regra das polémicas. Aproveito e quebro já outra regra deste blogue: não falar de política. Como disse, estou de férias e não há pachorra para certas coisas. Mas enfim, cá vai. Há umas valentes semanas rebentou a polémica Günther Grass. Consta que esse intelectual alemão, vencedor de um prémio Nobel e (ou seja) pessoa muito considerada pela esquerda europeia, pertenceu às Waffen SS. Pronto, é logo meio caminho andado para ser falado pelo resto do Mundo. Ou isso ou ser namorada do Ronaldo (o gordo, não o da Merche). Mas Grass já é velhote e não consta que seja dado a essas brincadeiras. Enfim, mais uma vez gerou-se uma grande confusão, com direito a acusações de vário tipo, artigos ácidos nos jornais, bengaladas televisivas e muito bla bla bla (até porque estamos em Silly Season). E houve logo cabecinhas geniais que se lembraram que Grass é um criminoso desprezível por ter pertencido a uma organização de que também faziam parte os guardas dos campos de concentração e personagens tão tenebrosas como Heinrich Himmler ou até Joseph Mengele. Oh, que heresia! Até porque qualquer um é criminoso por ser do mesmo clube que os gajos do gangue do Multibanco (não confundir com estes tipos novos que copiam cartões, que são certamente adeptos do Steua de Bucareste e não merecem por isso qualquer atenuante). Tenham mas é juízo e deixem de ser preconceituosos! Não que Grass se importe. Já deve ter amealhado bastante com esta sua autobiografia. Mas cá vai um esclarecimento para os mais interessados. As Waffen SS foram uma tropa especial de voluntários, muito bem preparados fisica, politica e psicologicamente. Nas suas fileiras combateram milhares de voluntários dos mais variados países. Foram eles que impediram que a ofensiva Aliada que se seguiu ao Dia-D fosse um passeio até Berlim. Grass é tão culpado por ter integrado as Waffen SS como Orwell é culpado por ter lutado ao lado dos trotskistas do POUM na Guerra Civil Espanhola.

(@ Zero7 - In The Waiting Line)

P.S. Há até um prémio Nobel da Paz ex-primeiro-ministro da República Federal Alemã que no seu currículo tem passagem pelas Brigadas Internacionais. E Hemingway, outro Nobilizado, parece que também deu uma mãozinha à mesma organização. Também têm que devolver o prémio?

2 Comments:

Blogger Paulo Hasse Paixão said...

Até o Arafat - esse grande inspirador do terrorismo moderno (é preciso não esquecer os actos da OLP nos anos 70 e 80 do passado século) - foi prémio nobel da paz e ninguém se escandalizou.
Na Europa do pós-guerra tem sido sempre assim: à esquerda podemos ser vilões, à direita é que não.

1:13 da manhã  
Blogger Mário Casa Nova Martins said...

Sinceramente, que importância tem hoje um Prémio Nobel da Paz ou um Prémio Nobel da Literatura.
Só para quem os recebe, em termos económicos, claro.

11:15 da manhã  

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